quinta-feira, 7 de junho de 2007

Cemitério de Pianos - José Luís Peixoto

"Tudo o que eu escrevo, paradoxalmente, afasta-se bastante de mim e ao mesmo tempo também se aproxima. Assim acontece com "Cemitério de pianos".
Na verdade, quando começamos a ler o novo livro de José Luís Peixoto ,constatamos desde logo o caracter autobiográfico da obra ,embora o romance tenha este ponto de partida,segue trinhos todos eles bastante fictícios.
A problemática deste livro existencialista, prende-se á questão da morte, de facto , nesta obra a morte não nos é apresentada com uma situação profundamente negativa,remetendo-nos para a idéia de continuidade ,através de tudo o que deixa-mos ou criamos, a idéia da morte é sempre vista pelo lado da vida.
Os narradores do livro são um pai e um filho que em épocas diferentes, mas por vezes sobrepostos, vão contando a história da família. E ntre estas histórias deparamo-nos com Francisco Lázaro, um atleta português que, no ano de 1912, morreu de insolação após ter cumprido 30 quilómetros de maratona nos Jogos Olímpicos de Estocolmo.
Está personagem ,representa os espírito português por vezes elevado de forma exacerbada aos limites do céu,ou no reverso da medalha,por vezes, depressivamente agoniado ,ao ponto de gerar a sua própria morte.
Na verdade, no romance do jovem autor (32 anos), a personagem Francisco Lázaro é um carpinteiro especializado em automóveis,que é o responsável por uma oficina de pianos.Nesta oficina existe uma parte onde foram colocados pianos sem concerto, este espaço representa de forma metafórica ,de morte e continuidade ,embora os pianos estejam personificados com a idéia de morte,as suas peças continuam funcionais noutros pianos,transmitindo-nos uma idéia de continuidade,para além,de a musica assumir um carácter de inefável.È em todos este cenário que se passam as cenas mais intensas e sensuais desde romance .
Para aqueles que conhecem a obra dos escritos de "Morreste-me" e de "Uma casa na escuridão",este é, segundo o próprio o seus livros mais optimista.
Na verdade,em “Cemitério de Pianos” a vida a passa toda na cabeça e no coração de Lázaro no longo sofrimento da maratona da sua morte: os ritmos fortes da corrida, do amor, da traição e da original pontuação; na narrativa densa e de labiríntica estrutura que se clarifica com o decorrer da história.
“Cemitério de Pianos” é um livro que se lê compulsivamente.
José Luís Peixoto ganhou o Prémio Jovens Criadores em 1997, 1998 e 2000 e passado a ser uma presença constante no “Jornal de Letras entre outros.Estreou-se no panorama literário no ano 2000 com "Morreste-me". Pouco depois lança "Nenhum olhar", vencedor do prémio José Saramago.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Porque a minha força determina a passagem do tempo."
Os pianos abandonados em melodias de tristezas mudas, tocam o tempo da sua morte ao fornecerem partes de si a outros pianos cuja vida se prolonga...com peças novas, mas sempre…sempre velhas... despedem-se assim da eternidade. Sendo assim…apenas lhes resta que cada tecla toque uma nota, numa melodia escura fatigada de morte. E para que a força e o alívio determine a continuação para a imaginação de cada um.

Anónimo disse...

Aprendi muito

Visitante Nº

AnunciossexoproductosClasificados Gratisvideos